25 janvier 2005

Pilhagem

Se o crime está irremediavelmente generalizado, incentivemos então o roubo de poemas para distribuí-los aos necessitados. Saquearemos, das grandes livrarias, todas as obras completas: Cecília Meireles, Drummond, Rimbaud, Ana C. E os livros de auto-ajuda? Oh, estes seriam impiedosamente exterminados diante de seus autores e editores. Estes sim, os verdadeiros criminosos. Ouço ouço ouço "Obstacle 1", do Interpol...

perto demais













"Nem o mundo, nem mesmo o sol podem mostrar
simultaneamente ambas as faces"

Anaïs Nin



"Closer" é uma amargo deleite. Inúteis crenças e promessas de amores eternos que não existem [nesse exato instante, ouço "Roxanne" em ritmo de tango]. E o que é isso mesmo que chamam de amor? Um sentimentozinho egoísta e arrogante que não sobrevive mais do que alguns meses. Um vírus que vai ocupando e inutilizando célula por célula, como bolhas de plástico, furadas compulsivamente. Chega a ser patético presenciar esse jogo, cujo vencedor será o que melhor dissimular ou souber burlar melhor as regras [regras, aliás, que eu nunca compreendi direito]. Seja como for, palmas para Natalie Portman!

P.S. Ainda sobre "The Dreamers": vontade de ouvir toneladas de Janis Joplin no volume máximo! Ah, esse filme é um tributo ao cinema, aos amantes do cinema, aos amantes, à rebeldia, aos sonhos e aos meus insubstituíveis e venerados anos 60...






21 janvier 2005

Da Casa do Incesto

"Não sei dizer como todas essas peças separadas conseguem ser EU. Eu não existo. Não sou um corpo..."
[Anaïs Nin]

to wish impossible things

"Era a esperança de tudo
Que poderíamos ter sido
Que me enchia com a esperança
De desejar
Coisas impossíveis..." [The Cure]

Vi "The Dreamers" do Bertolucci. Ainda não consegui sair da sala do cinema...

Eu Não Tenho Medo

"Há qualquer coisa de perverso no jeito em que a gente diz
- não é nada, não é nada." [Ana C.]

"Eu Não Tenho Medo" me deixou sem palavras, algo como o testemunho silencioso da Natureza presenciando tudo aquilo. Aquelas crianças nos confins da Itália, nas plantações intermináveis de trigo. Tanta inocência não tem mais lugar nesse mundo, nem a inocência do próprio diretor. Uma obra-prima perdida.

O Dia Em Que Júpiter Encontrou Saturno

- Você tem um cigarro?
- Estou tentando parar de fumar.
- Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
- Você tem uma coisa nas mãos agora.
- Eu?
- Eu.

[Caio F., no livro "Morangos Mofados"]

20 janvier 2005

Before Sunset















"Todos os relógios da cidade
Começam a girar e a tocar
Mas não deixe
O tempo te enganar
Pois o tempo
Não há quem conquiste
Em angústias e preocupações
A vida escoa vagamente
E a todos
O tempo há de consumir
Seja agora ou no porvir..."

[W.H.Auden, citado no filme "Antes do Amanhecer"]

Hoje sonhei com Caio F. Assim mesmo, do nada. Não disse nada de especial. Ele aparecia, no sonho, como um ex-professor ou ex-colega de cursinho, isso não ficou claro. O que? E quem disse que sonhos precisam ter sentido? Ontem assisti ao tão aguardado, belo e reconfortante "Antes do Pôr do Sol". Nada a dever a "Antes do Amanhecer", que retratava todo o entusiasmo de quem reside na casa dos 20 anos. "Antes do Pôr do Sol" é mais contido, com todas as seguranças e frustrações de quem já passou dos 30. O final deixa a platéia daquele jeito, boquiaberta. Inteligentíssimo. Se você não aprecia bons e intermináveis diálogos, esqueça. Mas se arrependerá depois, tenho certeza. Minha trilha sonora de cabeceira tem sido Interpol. Respiro ao som daquelas guitarras cortantes, belas e comoventes. Como sangue escorrendo. Folheei, por algumas horas, páginas e mais páginas de Clarice nas prateleiras da Cultura, em especial suas correspondências imortalizadas. Por muito pouco não levei os poemas de W.H.Auden, com o poema que Jesse recita para Céline. Haverá mesmo essa gravação de Dylan Thomas recitando poemas de Auden? Ouvir a voz desses escritores deve ser como ouvir a voz de um deus, as paredes tremeriam e você pediria clemência, caso sobrevivesse. Me disseram que há gravações na internet de Sylvia Plath lendo seus poemas. Acho que eu não dormiria por noites a fio. Nem estaria aqui para descrever.

13 janvier 2005

Prendimi L'Anima

"Conheces a cabra-cega dos corações miseráveis?"
[Ana Cristina Cesar]

Hoje decidi que levaria Ana C. comigo. O primeiro livro, A Teus Pés. Preciso retomar a obra de Ana. Ler Ana C. na poltrona do ônibus, ao lado da janela, é a melhor sensação que se pode ter. Todos aqueles versos que fariam a felicidade de qualquer cleptomaníaco literário. Frases para se escrever em diários, nas paredes do quarto, nas correspondências. Penso o tempo todo no filme que vi ontem à noite, penso em roubar versos, frases. Jornada da Alma é um tributo ao amor visceral, aquele louco amor entre Carl Jung e Sabina Spielrein. Eles escreviam diários em caderninhos de capa dura que os acompanhavam onde fossem, eles escreviam cartas e encontraram-se numa exposição de Gustav Klimt! Sabina curou-se com o amor de Jung. Ele a ouvia, ele acreditava nela, ele emprestou seu diário como prova de confiança. Ele chorou de felicidade. Ela o amava ardentemente. Ah, e aquelas canções russas e citações de Maiakóvski! Uma história sem pieguices baratas. Sem Olgas rastejantes e braços estendidos em direção ao Oscar.

12 janvier 2005

Delírios de Otimismo

"Tudo que eu pretendi foi dizer honestamente às pessoas: 'Olhem para vocês próprios e percebam quão ruim e estéril é a vida que vocês levam'. É importante que as pessoas percebam que podem criar uma vida melhor para si próprias. Um dia certamente o farão. Não viverei para vê-lo, mas sei que isso acontecerá, que as coisas serão diferentes".
[Anton Tchekhov]

11 janvier 2005

Tchekhov e Bardot

"Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade."
[Clarice Lispector, "Sobre a Escrita..."]

Ontem li, na orelha de um livro de Tchekov, que os melhores textos são aqueles que não são escritos. Quase levei Tchekov pra casa depois disso... Depois, vi Brigitte Bardot desfilando pela capa da Bravo numa foto dos anos 50. E queria levar Brigitte também. Nada agradável essa sensação de comprar pessoas como artigos de supermercado. No entanto, lá estão, insinuando-se, Clarice, Colasanti, Drummond, Cecília, Eliot, Callas... Ao som de Travis na Livraria Saraiva.

10 janvier 2005

Provérbio Bárbaro

"De que adianta
correr
quando se está
no caminho errado?"



quem tomará conta dos gatos?

...Mas quando o espírito se libertar,
quem tomará conta dos gatos? [Justine, em "Dani"]

Felicidade foi-se embora,
num projeto de passeio
em círculos. [Lupicínio & Ana C.]

05 janvier 2005

Correspondência Incompleta

"Sou uma carta nesta ranhura -
Vou ao encontro de um nome, de dois olhos..." [Sylvia Plath, no livro "Ariel"]

Redigi onze páginas... Achei um endereço interessante para mortos de fome por Letras: www.paralelos.org . Não pude ler com a devida calma, mas é repleto de boas surpresas, textos que não acabam mais. De sete a dez dias para uma correspondência chegar...

04 janvier 2005

Anaïs

"Realidade não me impressiona. Eu só acredito em intoxicação, em êxtase, e quando vida ordinária me algemar, eu escapo, de uma maneira ou de outra. Nenhum muro mais." [Anaïs Nin]

Óbvio que eu roubaria esse texto do teu blog, pensou que escaparias?

Por Trás Das páginas de Dostoiévski

"Hoje de manhã, eu acordei
Sozinho pensei
Onde está o arco-íris
Já não sei se você é o arco-íris..." [Arnaldo Baptista]

Hoje de manhã, encarei o mundo por trás das páginas de "O Jogador", do Dostoiévski, tentando desviar-me dos olhares de espanto no metrô e no ônibus. Paciência. Pode ser o cabelo. Pode ser a camiseta do Joy Division. Devo estar assustador. Ontem, vi um filme que não gostei, apesar de francês: "Nathalie...". Desperdício de elenco, apesar dos esforços de Emanuelle Béart para tentar erguer os cadáveres de Depardieu e Ardant [se ao menos tivessem escolhido Isabelle Huppert...].
Dezembro foi o canto do cisne que janeiro se encarregou impiedosamente de afogar. Assassinou-o logo no primeiro ato. Os sonhos que tive pareciam tão palpáveis... e os vejo sendo arrastados como os mortos da Indonésia. Corpos e lixo. Negra água salgada. Agora, olho para um dos lados e, num sobressalto, vejo apenas a poltrona do cinema vazia. Olho para o outro e avisto os mergulhadores encerrarem suas buscas ao Monstro do Lago Ness. Todos os meus esforços desperdiçados, um a um. E você, alheia a tudo, tão interessada nos livros que você revira desesperadamente pelas prateleiras, sem encontrar resposta. Reconheço a minha pretensão. Hora de virar a página. A dona irá reclamar pelo seu livro.

03 janvier 2005

Bem vindos a 1970

Eu vou me salvar
Eu vou me salvar
Para garantir a minha vida eterna
Peço misericórdia
Vou pegar as leis do todo-poderoso
E pra sempre cantar
Aleluia
Eu vou me salvar... [ "Eu vou me Salvar", Rita Lee/Élcio Decário, do disco "Build Up", 1970]

Minhas trilhas sonoras de fim-início-fim-de-ano são sempre movidas a qualquer coisa dos anos 60/70. Não podia ser diferente dessa vez. Rita Lee Jones, de 1970, preenchendo os espaços recém-nascidos disso que dizem ser o ano novo, 2005, século XXI. Ontem ouvi Arnaldo e aquele CD maravilhoso chamado Let It Bed. Que sejamos - ou, ao menos, esforcemo-nos para tal - íntegros, sensíveis e dignos como Arnaldo nos ensina em suas letras e melodias...

Deve ser amor o que eu estou sentindo, yeah!