17 mars 2005

quase inveja

"...no alarms and no surprises
no alarms e no surprises
please..." [radiohead]

Às vezes eu queria que a vida fosse mais simples. Às vezes, eu tenho uma quase inveja dessa aparente normalidade. Mas só às vezes. Muito de vez em quando. Depois o susto passa. E ouço Radiohead outra vez.

09 mars 2005

Papos de Aranha

"Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer... S.P.

folha em branco e grafite. não deixar espaços em branco. não se repetir. nunca gostei de desenhar em público. não desenhar figuras geométricas. calor no atelier. muita sede. será que ela posaria para as aulas de desenho da figura humana? ela me disse que só desenhava mulheres. preferia as mulheres. "só para desenhar?" fora dos desenhos, ela preferia homens. "eu sou casada!" usou uma exclamação ao final da frase. como se quisesse me causar surpresa. o que não causou. nada vi nas mãos que pudesse lembrar uma aliança de casamento. "vamos procurar um bebedouro? vamos tomar um pouco de ar?" ela me acompanhou. seus desenhos lembravam teias de aranha. "presa ou predadora?", "presa". não estou acostumado a desenhar em papéis de tamanho A1.

Bebê Girafa

"(Acho que te criei no interior da minha mente)..." S.P.

Fazia algum tempo já. Não marcava mais, na parede do quarto, os dias passados. Até porque, se fizesse as contas... quantos dias mesmo? pois ela, não se sabe se, por algum arrependimento [pouco provável] ou por falta do que dizer à colega da faculdade [muito provável], perguntou [e fez questão que ele soubesse depois] se ele iria ao show do Placebo. Ora, pois! Perguntou como ele estava. "Morto", ele disse. Dezesseis meses são um pouco mais do que a gestação de uma girafa. Dezesseis meses cobertos pelos entulhos dos escombros e ele deveria estar de que jeito? sorridente e feliz? repleto de planos mirabolantes? "é obvio que vou ao show do Placebo! se me conhecesse um pouco, saberia disso...", ele disse. Um pouco tarde para uma reconciliação? O eterno impasse entre Palestina e Israel. Seja como for, devo admitir que, com o Placebo diante dos meus olhos, tudo poderia acontecer.

07 mars 2005

Banquete de Mendigos

De volta à Universidade. Me senti gente de novo. Não pelo fato de estar novamente num "curso superior". O melhor de se estar numa Universidade é ter, à sua disposição, uma biblioteca inteira. Um infindável e apetitoso banquete com todos os seus pratos favoritos. E o que é melhor: a boca é livre. Final da aula de Introdução à Arte, 15h. Pouco mais de uma hora para revirar as prateleiras. Foi decepcionante constatar que, o que existe de Clarice, se resume a alguns poucos e mal cuidados exemplares. Ao menos são edições antigas, capas antigas, as melhores. Cadê Virginia Woolf? Poucos livros também. No fim das contas, o banquete já não parecia tão salivante, mas os restos de um buffet... Será que havia Sylvia? Hilda? Ana C.? Salinger? Kerouac? Preferi manter a ilusão de que estariam perdidos em alguma daquelas prateleiras com quilos de pó. Não procurei Caio, não encontrei "Insônia" do Graciliano, nem o "Dom Quixote" do Cervantes. Para não sair de mãos abanando, levei "Salomé" do Wilde e um livro para a disciplina de Fundamentos da Percepção, "O Corpo Fala", aquele que todos conhecem. Quase na saída da biblioteca, algo brilhou no corredor das literaturas inglesa e americana: era ela, elegante e ácida, de quem eu nunca havia lido nada até então: Dorothy Parker e sua "Big Loira". Dispensável o banquete. Levei para casa o prato principal.

P.S. Tenho conseguido ouvir "Lonesome Tears" do Beck sem cair em desespero extremo que coisas extremamente belas me provocam. Mas é uma sensação de se estar andando de bicicleta sem as duas mãos...
" Sinto o pulso de todos os tempos
comigo
Até quando, eu não sei..." [Arnaldo]

Ah, mas a melodiazinha dessa "Lost Cause" machuca...