25 juillet 2005

top top ten para um domingo [ou as músicas que não desgrudam e que aparecem ao acaso]



1. Libertines - Tell the King
2. Sonic Youth - Pattern Recognition
3. Radiohead - Thinking About You
4. Cardigans - You're the Storm
5. Air - Sexy Boy
6. Hole - Rock Star
7. Beck - Jack-Ass
8. Snow Patrol - Gleaming Auction
9. Belle & Sebastian - Expectations
10. T.a.t.u. - 30 Minutes

death on the stairs

please kill me no don't
kill me...


Demorei um pouco para assimilar esses Libertines. Eu, que a princípio, às primeiras audições, via-os apenas como mais uma bandinha blasé que toca e canta muito mal um roquenrolzinho pretensioso e fútil, agora passo a considerá-los como uns strokes dementes, uns strokes que beberam além da conta, ou o que o Franz Ferdinand gostaria de saber fazer. Os Libertines são daquelas bandas que não passarão do terceiro disco. Portanto, importa que sejam ouvidos [mesmo que toquem e cantem muito mal], até o último e fatal acorde [o espírito roquenroll agonizante]. Quem nasceu para viver muito, vive pouco. Para que haveríamos de desejar mais?

22 juillet 2005

electric honey records

"Nós buscamos outras realidades porque não sabemos como desfrutar da nossa; e saímos de dentro de nós mesmos pelo desejo de saber como é o nosso interior."

Montaigne


Acho que os pensamentos, as idéias, são como saliva, como veneno de cobra, vão se renovando aos poucos. Não que eu possa chamar de hiato criativo essas pausas em que fico sem escrever nada que ultrapasse uma frase pedantemente medíocre. Também não poderia chamar, as fases em que escrevo, de momentos de criatividade. Se ao menos eu fosse capaz de escrever uma ínfima parte do que o Raduan Nassar escreve! As frases dele ficam ressoando na minha cabeça, levo semanas pra digerir. E os pensamentos vêm e vão com uma facilidade espantosa. Reluto em levantar da cama, afinal já passa da meia-noite, faz frio e chove. Mas as palavras ficam pipocando, com Belle & Sebastian como trilha sonora. Uma possibilidade renovou meus restos de esperança [meio assim, como restos de nescafé] no fundo da lata. Posso ter, diante de mim, uma maquininha de escrever, e verde, como aquela do Erico Verissimo. Mesmo que não passe de um amontoado de plástico e metal, é disso que eu vivo, é assim que sobrevivo. De romantizar as pequenas coisas. Se tratarmos tudo como banal e sem valor [o que na verdade são as coisas, momentos, pessoas, sentimentos, numa análise bem realista], sobrará o quê? E também não venero às cegas, não é uma idolatria desmedida a ponto de ver rostos de santos numa vidraça encardida. Mesmo que tudo seja mentira [o que na verdade é], uma propaganda enganosa, gosto do que escrevem. Vivo disso também. Não estou em busca de nenhuma santidade, até porque elas não existem, todo mundo sabe. "Made by Electric Honey Records". Eu nem havia me dado conta até esse momento de que "this is the first record by Belle & Sebastian. They're called it 'Tigermilk'". E o sono se mistura com a noite, os pensamentos se diluem com a chuva. Depois que eu cerrar os olhos, adeus, pensamentos. Todos eles estarão irrecuperavelmente perdidos.

14 juillet 2005

Conflito

"I'm going hunting
I'm the hunter...
(you just didn't know me!)
(you just didn't know me!)..."
[Hunter, Björk]

Há uma guerra declarada aqui bem perto. Uma guerra sangrenta onde os inimigos são seus próprios habitantes. Isolaram inteiramente suas fronteiras porque não admitiriam interferências. Não há mais munição alguma. Suas armas são o que encontram pelo caminho. Olhando ao redor, a imagem é de uma desolação sem fim: escombros, sangue, corpos mutilados. Não se sabe precisamente como tudo começou, nem o real motivo - se é que há - desse conflito. Sabe-se apenas que lutam aos prantos, até esvairem-se suas forças, sucumbindo nas mãos de um inimigo imaginário. Morrem de desgosto, de cansaço. Deixam-se morrer na esperança de abreviar todo esse sofrimento. Aos que sobrevivem, não resta alimento ou água. Os mais renomados especialistas bélicos descartam qualquer possibilidade de pacificação. Segundo eles, a previsão é de que não haja sobreviventes. A ONU, por sua vez, lavou [como de hábito] as mãos, alegando ser uma região de difícil acesso. "Nada podemos fazer", afirmou o porta-voz. "Esta é uma guerra interior."

13 juillet 2005

intervenção cirúrgica


"Podias parar meu coração
e transplantá-lo para teu aquário...


Carpinejar

12 juillet 2005

Por que Audrey Hepburn?

Olha que eu procurei palavras, me dispersei. Disseram que nem falo de mim, só dos livros. Mas porque sou apenas isso, tenho sido esses fragmentos. Ando espalhado pela estantes, pelos CDs arranhados, pela poeira entre as páginas e restos de conversa. Podem me encontrar no fundo da xícara de café, nas moedas sobre a mesa, no último metrô. Buscando não sei o quê em máquinas de escrever, em bicos-de-pena para escrita gótica, em cartas que, nem sempre, chegam a algum destino. Comprei uma foto de Audrey Hepburn que achei tão bonita, como se viesse de algum paraíso perdido. Está num porta-retrato agora, sobre a cabeceira da cama. Deve ser isso, a busca inútil por um paraíso. Quando olho para o retrato, eu quase acredito.

11 juillet 2005

Execução

A ação daqueles homens contradiz o bom tempo. Era um sábado ensolarado, numa dessas manhãs em que as pessoas tornam-se afoitas feito formigas diante do açucareiro. Cheguei no final do espetáculo. A praça de linchamento isolada pela prefeitura com um emaranhado de fitas amarelas e pretas, cercando as vítimas. E os curiosos em torno de. Os homens da prefeitura agem rápido, numa eficiência de exército nazista. Recolhem os restos da execução em caminhões, varrem os vestígios com uma precisão cirúrgica. Há um clarão diferente, uma luminosidade mórbida em frente às escadarias da estação do metrô. As pessoas em volta retornam ao seu ritmo mecânico de vida, satisfeitas. Restaram apenas as marcas na calçada: duas pequenas crateras, um corpo sem braços. As duas árvores deixaram de existir.

06 juillet 2005

Desculpe, K.

"Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão" [Drummond]


Pedi um tempo para Katy M. Assim não dava para suportar. Atenção exclusiva, por uns dias, não. Devolvi seus livros para a biblioteca, mas prometi-lhe que leria-os todos, até o fim. Estavam me sufocando. Esqueci um pouco, só um pouco, de Dottie. Deixei sua biografia marcada na página tal, porque duvido que alguma cabecinha, daquelas que zanzam pela universidade, possa ter o menor interesse por ela. Big Loira ficou lá, pedindo pra deus que ele [não deus] ligasse. Agora admito. Sou um promíscuo sem caráter, um biscate que se vende por um conto acima da média. Pulei pro lado do inimigo, pulei a cerca. Confesso: estou lendo Virginia Woolf e uma biografia sua. Sei que poderei ser castigado pela duas - Katy e Dottie - mas, por favor... entendam minha poligamia literária. Nada pessoal, meninas. Ou seria extremamente pessoal? Mas o fato é que amo-as todas, com devoção. Isso é muito para um quase ateu. Prometo voltar, prometo... [alguém me falou a respeito de promessas: que, aquele que as faz, geralmente não cumpre].
Estou lendo escritores homens! o que é um fato muito raro de acontecer. Drummond e aquele título belíssimo, Claro Enigma, e Raduan Nassar, o homem-que-só-escreveu-dois-livros, de quem achei esse Menina a Caminho, quatro contos dos anos 60 e 70 extremamente interessantes. Gostei muito de Um Copo de Cólera, literatura visceral, bem crua. Por pouco não levei Machado de Assis, Cervantes, Thomas Mann. Até Nietzsche. Uma tendência à fase de escritores? Pouco provável. Não acredito que dure por muito tempo. Apesar de, sim, ter passado muito tempo lendo Kerouac, querendo ser Kerouac; depois, lendo Salinger e pondo a cidade do avesso em busca de tudo que fosse dele e sobre ele. Querendo ser Holden Caulfield e achando que essa tal de família Glass realmente existe [aliás, acredito até hoje]. Mas Virginia está por perto. E com ela não se brinca.

05 juillet 2005

cartas marcadas



Ops! Caiu uma carta da minha manga... [risos]. Se você quiser, pode colorir.

04 juillet 2005

jardim de centáureas

"possam as últimas bocas gritar alto
Numa floresta de gelo, num amanhecer de centáureas..."

Sylvia Plath


"Acima de tudo, quando se está usando um vestido azul francês e um chapéu de primavera novo, enfeitado com centáureas..."

Centáureas! Ela exclamou em pensamento. Fechou o pequeno livro de contos de Katherine Mansfield que comprara por seis reais. Uma pechincha. E as pessoas ainda querem argumentar que os livros estão caros, pensou, e que por isso não lêem. Ora, Cinco Contos de K. Mansfield por esse preço? Pois que fiquem com seu Diário Gaúcho de 50 cents e vibrem a cada linha escrita com violência e banalidade!
A palavra centáurea havia mexido com ela. Pegou papel e caneta e pôs-se a imaginar palavras que soassem incrivelmente belas, dessas que só se encontram em livros de ficção. Centáureas... um jardim delas. Talvez, à beira da morte, quando todos os tempos e momentos e pessoas vividos se misturam diante dos olhos, ela pudesse vislumbrar algo parecido.
Começou a fazer uma lista dessas palavras que, a seu modo, pareciam-lhe tão bonitas. Então lembrou-se de felicidade. Em português, ela tem a forma de um sorriso. Experimente pronunciá-la. Você logo sorri. Fe-li-ci-da-de... Parece que contagia!
Mas sua lista havia ficado apenas nessas duas palavras. O livrinho caíra suavemente no chão. E ela adormeceu sorrindo. Em seu jardim de centáureas.