08 septembre 2005

Wafers com Paul Auster



Leio Paul Auster pela primeira vez, mas é ainda cedo demais para esboçar qualquer impressão. Embora o que já li fosse o suficiente para me instigar a ler páginas e mais páginas. Ele simplesmente jogou, ao que me parece, toda a sua vida, seus primeiros passos, dentro daquele livro ["Da Mão Para a Boca"]. Território estranho esse, em que caminho como que numa calçada escorregadia. Literatura masculina, isso existe? Mesmo nesse terreno desconhecido, me sinto quase retornando ao mundo dos vivos. Uma breve passagem, uma pequena visita, meu olhar pela janela entreaberta. Mas isso não me entusiasma nem um pouco. Cultivar relacionamentos tão consistentes quanto um copo de leite desnatado, sabendo de antemão que nada disso terá a menor chance de sobreviver.
Domingo fui a um show no Garagem Hermética, num horário inacreditável, 19 horas. Lá estava eu, na mesinha-atrás-da-mesa-de-som, munido do livro do Auster e uma trilha sonora bem interessante, com vozes femininas [só reconheci Breeders]. Bastante gente, que se comportava como se estivesse numa sexta à noite. Com uma hora e meia de atraso, uma das piores bandas que poderiam pisar sobre aquele palco: Sem Sentido, três pirralhos e um vocal insuportável, inacreditavelmente desafinado, algo como um CPM 22, ainda piores. Vontade de sair correndo, mas algo me dizia para fazer justiça àquele um real e ao quilo de farinha que, juram, contribuirá para aplacar a fome de alguém. Mini Band foi uma espécie de antídoto, três caras que tocavam, de verdade, um psychobilly interessante. O baixista parecia vir de alguma banda perdida nos anos 60, confortavelmente deslocado entre os outros dois, que usavam cabelo curto e estavam bem animados. Então, chega o grande momento da noite, a banda Wafers. Baixista estilosa, vestidinho preto com bolinhas brancas, óculos de armação preta. "Pronto", pensei, "mais uma banda fofinha com vocais etéreos e guitarras distorcidas". Pois os três começam a tocar covers impecáveis de Sonic Youth. Meus olhos voltaram a brilhar. Saí da mesinha escondida para conferir de perto aquela banda simples e muito competente. Quem poderia acreditar que, naquela noite perdida de um domingo, no palco de um bar em Porto Alegre, haveria uma banda perfeita tocando brilhantemente vários Sonic Youth e Pavement? Com direito a Carlinhos da Bidê ou Balde subindo meio bêbado e ensandecido no palco pra dividir os vocais? No final, só me restava contar os trocados que eu não tinha e levar o CD dessa banda maravilhosa. Wafers é a melhor banda do mundo nas próximas horas.