03 février 2005

Bible of Dreams

" Quem sabe se os ratos não chegam, desde pequeninos, à conclusão de que o mundo inteiro é governado por uma multidão de pés enormes. Pois eu, do meu poiso, vejo o mundo governado por uma e uma só coisa. O susto com cara de cão, cara de demônio, cara de bruxa, cara de puta, o susto maiusculado, sem cara nenhuma - sempre o mesmo Johnny Panic, acordado ou a dormir. "
[Sylvia Plath, in "Johnny Panic and The Bible of Dreams", tradução de Ana Luísa Faria]

São poucos os momentos em que me reconheço. Em que posso dizer: "estou em casa". Um desses raros momentos é quando estou à mercê da literatura mais verdadeira que eu conheço: a obra de Sylvia Plath. A maioria, póstuma. Sylvia apenas pôde ver um livro seu: "The Colossus". Recebeu frias críticas na época. Mais de vinte anos depois, "The Collected Poems", seria agraciado com o Prêmio Pulitzer. Tarde demais. O que leio agora, após meses de espera, é seu "Johnny Panic And The Bible of Dreams", em português de Portugal, com o divertido título de "Zé Susto e A Bíblia dos Sonhos". Assombroso, assombroso. Nas páginas de Sylvia é que me sinto em casa.