28 avril 2005

Ilusão de Movimento

Toalha de mesa sob os cotovelos. Sob a xícara de capuccino com creme que ela não pediu. Sob a taça de vinho e os guardanapos. As janelas do café, uma salvação. Divertia-se com a fisionomia indiferente do garçom. Um caso perdido. A toalha ela sempre achou bonita: azul-marinho com florzinhas brancas. Florzinhas, florezinhas... Tantas incertezas na vida e essa era apenas uma delas. Os pequenos detalhes: uma das razões da tragédia humana. Os casais vindo e indo, indo e vindo. O rapaz que troca a namorada pelo celular bebe chopp. A namorada, esquecida, é salva pelo capuccino, sem creme. Os movimentos contínuos, óbvios, vão preenchendo as mesas à janela [imagem cinematográfica: Juliette Binoche em "A Liberdade é Azul"...?]. Seus olhos perseguiam incansáveis esses movimentos. Mãos, bandejas, copos, bocas, olhares, os gestos tímidos de quem chega. Olhos ávidos de criança, de gato seguindo os rastros. Quando flagrados, eles fugiam. Por entres as florzinhas brancas da toalha azul.

1 commentaire:

Madame Pantera a dit…

Uma das maiores tragédias humanas também seria morrer sem ser visto, ou pior, morrer, continuar vivo e ninguém saber nada sobre isso.