03 février 2006

PEQUENO DESASTRE AÉREO

Ela olhava atenta, quase sem pestanejar, para os olhos da outra que lhe contava - detalhada e animadamente - tudo sobre a festa. Enquanto prestava atenção, sua respiração havia literalmente paralisado. Árdua tentativa de procurar ser a mais natural possível, forçando sorrisos, dando a entender que estava feliz por sua amiga. Mas no fundo, bem no fundo, ela se afogava no fundo de seus pensamentos, olhos fixos nos olhos dela, como que a dizer: "Não me seja assim tão cruel, acaso preciso saber que agarrou algumas meninas na festa, paquerou, azarou, xavecou...? Com meninos, você sabe, é diferente, são do outro sexo. Mas com meninas como eu, por favor, não faça isso comigo. Você, que não é capaz de me amar com a mesma intensidade que eu a amo [veja bem, não a culpo], tenha, por favor, a delicadeza de não me ferir." Procurando manter a naturalidade, ela detém-se num romance erótico de Hilda Hilst. O coração incendiando de tanto desespero. Como borboletas em chamas.

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