Esta é a mala de couro que contém a famosa coleção. Reparem nas minhas mãos, vazias. Meus bolsos também estão vazios. Meu chapéu também está vazio. Vejam. Minhas mangas. Viro de costas, dou uma volta inteira. Como todos podem ver, não há nenhum truque, nenhum alçapão escondido, nem jogos de luz enganadores. Ana Cristina Cesar
03 février 2006
PEQUENO DESASTRE AÉREO
Ela olhava atenta, quase sem pestanejar, para os olhos da outra que lhe contava - detalhada e animadamente - tudo sobre a festa. Enquanto prestava atenção, sua respiração havia literalmente paralisado. Árdua tentativa de procurar ser a mais natural possível, forçando sorrisos, dando a entender que estava feliz por sua amiga. Mas no fundo, bem no fundo, ela se afogava no fundo de seus pensamentos, olhos fixos nos olhos dela, como que a dizer: "Não me seja assim tão cruel, acaso preciso saber que agarrou algumas meninas na festa, paquerou, azarou, xavecou...? Com meninos, você sabe, é diferente, são do outro sexo. Mas com meninas como eu, por favor, não faça isso comigo. Você, que não é capaz de me amar com a mesma intensidade que eu a amo [veja bem, não a culpo], tenha, por favor, a delicadeza de não me ferir." Procurando manter a naturalidade, ela detém-se num romance erótico de Hilda Hilst. O coração incendiando de tanto desespero. Como borboletas em chamas.
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