Esta é a mala de couro que contém a famosa coleção. Reparem nas minhas mãos, vazias. Meus bolsos também estão vazios. Meu chapéu também está vazio. Vejam. Minhas mangas. Viro de costas, dou uma volta inteira. Como todos podem ver, não há nenhum truque, nenhum alçapão escondido, nem jogos de luz enganadores. Ana Cristina Cesar
21 octobre 2005
Inquietações WoolfiANAs
Silêncio de resposta e sangue ainda
os vidros soltos sobre a cara
mesmo sem saber que retornamos
saibamos que o espelho que desaba
fere e contunde nossa cara...
Ana C.
Toda vez que eu a via, lá estava ela, compenetrada, olhando para o próprio polegar, sem entender o que havia nele. Era algo que a machucava, embora ela não demonstrasse. Ficava ali, querendo livrar-se daquele incômodo. Às vezes eu pensava que roía as unhas, mas era para o polegar que ela dava atenção. Antes ou depois da sessão de cinema, ela olhava para o polegar. No meio da pista - lotada - de dança, ela parava, olhando para o polegar. Afinal, esse incômodo havia se transformado num indecifrável mistério. Até que, finalmente, naquela fria manhã, ela parecia decidida a livrar-se daquilo. Na mesa do café, sob a luminosidade cinzenta de uma segunda-feira, ela tentou com uma pinça, sem sucesso. Pegou uma agulha de costura, sentou-se diante de mim e, muito calmamente, retirou do polegar o motivo de todo o enigma: sobre a ponta da agulha, um caco de vidro, uma minúscula e brilhante partícula da qual ela, finalmente, se livrara. Seria um pedaço de espelho no dedo? Nada incomum para quem escreve poesias nas paredes do apartamento e faz mousse de maracujá de madrugada.
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1 commentaire:
lindo textoi, lindo lindo
eu entendo
saudade
escreverei carta certeira! com amor
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