Esta é a mala de couro que contém a famosa coleção. Reparem nas minhas mãos, vazias. Meus bolsos também estão vazios. Meu chapéu também está vazio. Vejam. Minhas mangas. Viro de costas, dou uma volta inteira. Como todos podem ver, não há nenhum truque, nenhum alçapão escondido, nem jogos de luz enganadores. Ana Cristina Cesar
20 octobre 2005
notas de uma segunda-feira que já morreu
"Quem ama o abismo, precisa ter asas..."
Só agora, quando a festa acabou, as luzes se apagaram e as músicas cessaram de tocar, só restando uma ligeira e amarga ressaca e um zumbido insistente nos ouvidos, só agora é que percebo, nesse sono que me parte entre o real e a diluição, que estava dentro de um barco afundando sem música ao fundo [estrelas no fundo do poço, Mrs. Plath?]. O sol de segunda-feira, embora tímido e preguiçoso de manhã, atravessa a janela do ônibus, derretendo meus sentidos. Houve uma vez em que desceu um daqueles anjos que ilustram as bíblias sagradas e sentenciou com seu linguajar solene: "terás o direito de amar apenas o impossível. Quanto mais intenso o amor, maior a impossibilidade". Desde então, há esse intransponível e vertiginoso abismo bem diante dos meus pés. "Amarás o abismo", disse o anjo. "Quanto maior o amor, maior o abismo". Dentro dele, o barco afundando. Afundando no ar.
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