23 novembre 2005

meia hora no metrô



Não encontro
no meio de todas essas histórias
nenhuma que seja a minha.
Nenhum desses temas me consola.
Espero ardentemente que me telefonem.
Espero que a chuva pare e os trens voltem a circular...

Ana C.

A menina em pé no metrô com um pesado livro do Dostoiévski [ela só queria ler O Jogador, que estava num dos volumes das Obras Completas], um do Italo Calvino e alguns xerox sobre arte concreta e existencialismo, olha para a moça sentada à sua frente. Nela, vê os ingredientes para idealizar alguém: cabelos curtos e pretos, magra, pele muito branca, blusa vermelha com mangas curtas quase na altura dos ombros, sentada no banco próximo à janela. Apoiado à sua frente, um instrumento musical protegido por um estojo. Poderia ser um violão, mas ela diria que é uma guitarra pela sofisticação do estojo. Olha para suas mãos e as unhas da mão direita são mais compridas. Uma violonista clássica? Imaginou que poderia ser uma violoncelista. Que, pelas formas dos dedos das mãos, poderia ter pés bem atraentes. Limitava-se a admirá-la de longe. No terreno das idéias, as chances de se ferir podem ser menores. Já não haviam lhe dito que "não ter é a melhor forma de não perder"? Pois assim ela seguiu pensando, até desembarcar na mesma estação de sempre, atrasada como sempre e acreditando, como sempre, que encontraria novamente a mesma menina de cabelos curtos pretos em algum lugar da cidade. Porque isso lhe acontecia com uma certa freqüência que ela não sabia explicar. Quando fixava-se em alguém, quase sempre reencontrava essa pessoa. Quase sempre.

2 commentaires:

Anonyme a dit…

André,
Adorei teus desapontamentos, bom te ver ontem, mesmo com minha cara de mau,
Beijos,
Ana.

Gisalina a dit…

Tudo bem, eu estava deprimida e com dor de dente ontem, e eu perdi champagne com escritores, e eu sei que sou meio rabugenta no telefone, mas tu sabe que no fundo eu sou uma boa menina, não sabe?
E que eu te gosto e tu tá todo gatinho de cabelo curto!!!!
:P