08 juin 2006

Às putas que a literatura pariu




- À puta que pariu a literatura! Quero ver esses escritorezinhos de merda destruindo tudo ao redor. Não essas frases todas no lugar certo como se postas à mesa de um restaurante caro. Quero a gana do Arcade Fire, esse desespero pela poesia. Não às palavras vãs, ao falar só por falar. Quero a poesia sangrando! Cadê a alma que os cristãos pregam? Pregar. Nisto eles são mestres. Pregam seus próprios mártires. Você não está entendendo o que estou tentando dizer, não é? Eu também. Não é mesmo para entender. É que esse marasmo literário me irrita. Festas literárias em Paraty onde apresentadores de televisão descem de helicóptero. Muita pose para pouca escrita. Deve ser por isso que o Raduan não escreve mais, foi cuidar de coelhos. Se é para publicar na revista Cláudia, melhor é criar galinhas. Elas que, aliás, foram fonte de inspiração à Clarice e ao Caio.

- Eu entendo. Entendo perfeitamente o que você quer dizer. Compreendo bem toda sua indignação. Mas precisava ficar nesse estado por causa de um videoclipe do Arcade Fire?

- Oh, meu bem... desculpa... Acho que... havia algo de estranho nesse chá de camomila. Prova...

- Esquece, esquece. Não foi nada. Vem, amor, vamos dormir.

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