"You'll rise above the sea of doubts
Into a world full of clouds
Alive..."
Azure Ray, Sea of Doubts
Três dias e três noites que não sai de casa. Sentia um gosto amargo na alma. Sabia bem o porquê. Intuição de alma não falha. Ouve cada palavra, sentindo o coração cortar-se em fatias. Não bastava que lhe podassem as asas? Um final no início de um novo ano. Irreparável? Irreversível? Levanta-se da cadeira encharcada de suor, dirige-se até o banheiro, evitando os olhos da gata. Chora escondendo o rosto na toalha, chora o gosto amargo da alma. Brinca um pouco com a gata, antes de se despedir, inventando um sorriso que não tem. Gatos percebem tudo. Embarca no ônibus, vai para o trabalho engolindo a dor. À tardinha, compras no supermercado. Leite em garrafinhas na promoção. Nescau, pão, café e cigarros. Na parada do ônibus, percebe um céu diferente dos demais. Finge ignorar. Mas logo volta-se para trás, para esse céu cinza, laranja e azul que lhe diz: "sua vida vai desmoronar, vai se reerguer, vai cair de novo, mas é a única que temos para lhe oferecer. Não adianta querer abraçar aquilo que não tem. Olhe para a frente, olhe ao redor de si mesma. Nada é assim tão trágico." Céus ao entardecer dizem coisas estranhas. Embarca no ônibus, entra no apartamento. A gata adormecendo sobre o piano é despertada pelo barulho das sacolas. Abre uma das garrafinhas, oferece-lhe um pouco de leite. Diante do computador, percebe que Azure Ray nem é tão triste assim. E que a vida nem é assim tão trágica. Gatos percebem tudo.
4 commentaires:
Post perfeito, quase chorei ;_;
Bjs!
quem me dera ser gato... :)
Gostei do que li.
Convite:
www.pequenaservilhasenesperas.blogspot.com
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