19 octobre 2006

Ciranda Cirandinha



Um gosto amargo na boca, um coração no céu da boca. Cigarros e chocolate eram tudo que seu organismo debilitado suportava absorver. Há dias não sujava um único prato. Não via estrelas, não havia estrelas. Perdeu a lua de vista. Não havia músicas que a confortassem, uma única página, dentre os dezesseis livros, todos abandonados pela metade, que lhe dissesse: "respira fundo, sossega o coração...". Ela repetia, em voz baixa: "engole essa saudade... engole com muita água até que te tornes transparente, sem gosto e sem cor. Invisível. Incolor. Indolor". Água pela garganta, água até o pescoço, água até não mais. Sua infância, a dançar em torno dela, cantarolava cantigas de roda...
"o anel que tu me deste
era vidro e se quebrou
em pedrinhas, em pedrinhas de brilhante
para o meu, para o meu amor passar..."

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