22 octobre 2006

Cortina de Fumaça

Chan Marshall

As teclas pretas do meu teclado tornaram-se cinza, tamanha espera. Fumaça embaçando o monitor e o quarto. Embaça os olhos, os pulmões, o coração. Embaçam minhas retinas tontas e habitadas. Roubo palavras alheias e imagens que não são minhas, ladrão que rouba flores do jardim vizinho. Essa fumaça que me ronda tem mais cor que a minha invisibilidade. A invisibilidade da espera. À espera de uma rara e fortuita visita.

Fumo

Florbela Espanca

Longe de ti são ermos os caminhos.
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem
ninhos!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

Os dias são outonos: choram... choram...
Há crisantemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho!
Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...

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