25 décembre 2006

dom de iludir-se



A primavera está no ar
Eles estão varrendo as ruas
O vento é uma brisa
O sol se transforma nele, ele concorda

O que mantém o rosto dele levantado?
Nada além dos céus azuis,
Corredores que levam às janelas
Que não se fecham

Onde você mora?
Amor é um lugar
De onde você é?
Ela diz, pergunte a você mesmo, pergunte a qualquer um

O que mantém o rosto dele levantado?
Nada além dos céus azuis,
Corredores que os olhos da mente
Contemplam...


Metric, "Love is a Place"


Procura ocupar-se das pequenas coisas como lavar louça e roupas, limpar a casa, brincar com a gata que lhe pede atenção. Gatos percebem quando sorrisos não são verdadeiros? Vê uma pilha de roupas sobre a tábua de passar, pilhas de livros interrompidos, anotações pela metade como montanhas intransponíveis. O peso do ar sem vento de uma tarde de Natal é diretamente proporcional ao peso do próprio coração, ao peso de um sonho que ela se esforça por erguê-lo sozinha. Sente o coração envenenar-se, tingir-se de cinza. Um dilaceramento por dentro como algo prestes a implodir. Cada palavra vaga é um empurrãozinho para que o castelo de cartas - que ela não recebe - desabe. Coleciona músicas obscuras e melancólicas no computador como brinquedinhos que finge acreditar pertencerem a ela apenas. Como se fosse a única, no mundo inteiro, a escutar The Decemberists, Architecture in Helsinki, Blonde Redhead, Metric. Ela sabe que não é verdade. Mas deixa-se iludir. Deixa que os outros a iludam. E ainda finge que acredita.

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