07 décembre 2006

quando é noite de lua cheia



Se a lua sorrisse, teria a sua cara.
Você também deixa a mesma impressão
De algo lindo, mas aniquilante.
Ambos são peritos em roubar a luz alheia.
Nela, a boca aberta se lamenta ao mundo; a sua é sincera,

E na primeira chance faz tudo virar pedra.
Acordo num mausoléu; te vejo aqui,
Tamborilando na mesa de mármore, procurando cigarros,
Desconfiado como uma mulher, não tão nervoso assim,
E louco pra dizer algo irrespondível.

A lua, também, humilha seus súditos,
Mas de dia ela é ridícula.
Suas reclamações, por outro lado,
Pousam na caixa do correio com regularidade encantadora,
Brancas e limpas, expansivas como monóxido de carbono.

Nem um dia se passa sem notícias suas,
Vadiando pela África, talvez, mas pensando em mim.


Sylvia Plath, "Rival"


Não era um dia ensolarado como o de hoje. Estava nublado e fazia frio. Mas seu coração estava quente e agitado. Mãos suavam, pernas tremiam e ela a aguardava com ansiedade. Foi exatamente nessa data - também uma noite de lua cheia - que ela a beijou pela primeira vez. O primeiro café, o primeiro cigarro. As músicas mais perfeitas tocaram naquele café. Pareciam feitas sob encomenda. Foi quando ela a tocou pela primeira vez, encantou-se com seus olhos pequenos e tão próximos, brilhantes. A boca tão perto, as mãos. Os dois bombons que havia guardado exatamente para aquele dia, foram consumidos como hóstias numa comunhão. Trocaram alianças e cartas que, agora, seriam entregues pessoalmente. Pensava nisso agora, com o coração gelado de tanta cerveja, a alma nublada com tanto cigarro. Encolhe-se no sofá, ao abrigo da luz vermelha do abajur, das músicas que vêm do quarto e da lua, imensa na janela, cujo clarão torna as cortinas mais brancas, como fantasmas. Apenas a lua, sua única testemunha, seria capaz de compreendê-la.

1 commentaire:

Mme. A. a dit…

É curioso como temos fases. Como sempre achamos que tudo é definitivo. E nos agarramos a pequenas coisas que no fundo, acreditamos poderem salvar nossas vidas. Temos o estranho hábito de responsabilizar os outros por nossa redenção, de querer que alguém além de nós seja a razão pela qual continuamos existindo. O ser humano é um bicho besta. Nós nos repitimos todos os dias, todas as horas. Todos os casos de amor seguem o mesmo rumo, as pessoas que conhecemos e por quem nos interessamos gostam das mesmas coisas e se movem praticamente da mesma forma. Acho que somos eternamente amaldiçoados por nossos arquétipos e por nossas buscas. E não falo isto como alguém que se desiludiu e perdeu toda e qualquer esperança com relação à beleza, felicidade e amor. Não, falo isto como alguém que acredita em tudo, só que pára para enxergar um pouco mais, para entender quem me cerca.

Todos os dias acordo -- se não todos, pelo menos muitos deles -- com aquele gosto estranho no fundo da garganta, com aquela esperança grande e imbecil de que ainda poderei ser salva. Que vou encontrar alguma coisa durante o dia, música, filme, poema, borboleta, que vai fazer com que eu exploda e me espalhe pelo ar.

E assim continuo.

Acho que é sina.