Esta é a mala de couro que contém a famosa coleção. Reparem nas minhas mãos, vazias. Meus bolsos também estão vazios. Meu chapéu também está vazio. Vejam. Minhas mangas. Viro de costas, dou uma volta inteira. Como todos podem ver, não há nenhum truque, nenhum alçapão escondido, nem jogos de luz enganadores. Ana Cristina Cesar
07 décembre 2006
quando é noite de lua cheia
Se a lua sorrisse, teria a sua cara.
Você também deixa a mesma impressão
De algo lindo, mas aniquilante.
Ambos são peritos em roubar a luz alheia.
Nela, a boca aberta se lamenta ao mundo; a sua é sincera,
E na primeira chance faz tudo virar pedra.
Acordo num mausoléu; te vejo aqui,
Tamborilando na mesa de mármore, procurando cigarros,
Desconfiado como uma mulher, não tão nervoso assim,
E louco pra dizer algo irrespondível.
A lua, também, humilha seus súditos,
Mas de dia ela é ridícula.
Suas reclamações, por outro lado,
Pousam na caixa do correio com regularidade encantadora,
Brancas e limpas, expansivas como monóxido de carbono.
Nem um dia se passa sem notícias suas,
Vadiando pela África, talvez, mas pensando em mim.
Sylvia Plath, "Rival"
Não era um dia ensolarado como o de hoje. Estava nublado e fazia frio. Mas seu coração estava quente e agitado. Mãos suavam, pernas tremiam e ela a aguardava com ansiedade. Foi exatamente nessa data - também uma noite de lua cheia - que ela a beijou pela primeira vez. O primeiro café, o primeiro cigarro. As músicas mais perfeitas tocaram naquele café. Pareciam feitas sob encomenda. Foi quando ela a tocou pela primeira vez, encantou-se com seus olhos pequenos e tão próximos, brilhantes. A boca tão perto, as mãos. Os dois bombons que havia guardado exatamente para aquele dia, foram consumidos como hóstias numa comunhão. Trocaram alianças e cartas que, agora, seriam entregues pessoalmente. Pensava nisso agora, com o coração gelado de tanta cerveja, a alma nublada com tanto cigarro. Encolhe-se no sofá, ao abrigo da luz vermelha do abajur, das músicas que vêm do quarto e da lua, imensa na janela, cujo clarão torna as cortinas mais brancas, como fantasmas. Apenas a lua, sua única testemunha, seria capaz de compreendê-la.
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1 commentaire:
É curioso como temos fases. Como sempre achamos que tudo é definitivo. E nos agarramos a pequenas coisas que no fundo, acreditamos poderem salvar nossas vidas. Temos o estranho hábito de responsabilizar os outros por nossa redenção, de querer que alguém além de nós seja a razão pela qual continuamos existindo. O ser humano é um bicho besta. Nós nos repitimos todos os dias, todas as horas. Todos os casos de amor seguem o mesmo rumo, as pessoas que conhecemos e por quem nos interessamos gostam das mesmas coisas e se movem praticamente da mesma forma. Acho que somos eternamente amaldiçoados por nossos arquétipos e por nossas buscas. E não falo isto como alguém que se desiludiu e perdeu toda e qualquer esperança com relação à beleza, felicidade e amor. Não, falo isto como alguém que acredita em tudo, só que pára para enxergar um pouco mais, para entender quem me cerca.
Todos os dias acordo -- se não todos, pelo menos muitos deles -- com aquele gosto estranho no fundo da garganta, com aquela esperança grande e imbecil de que ainda poderei ser salva. Que vou encontrar alguma coisa durante o dia, música, filme, poema, borboleta, que vai fazer com que eu exploda e me espalhe pelo ar.
E assim continuo.
Acho que é sina.
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