04 mars 2006

Bee Box



A caixa é apenas temporária...
Sylvia Plath

A grande hora da chegada
do Correio.
Ninguém te escreve, mas que importa?
Drummond

My Dear,

Estou pulando desesperadamente de livro em livro. Em busca, sei lá, de algum refúgio. Abro as caixas de papelão como arcas de tesouros perdidos e, delas, tiro Salinger, Ana, Clarice, Anaïs... Hoje de manhã, ao som de Alice in Chains acústico, devorei os poemas da Hilda, daquela coletânea Do Amor, capa linda, feita pelo Arcangelo Ianelli [Composição em vermelho, 1998]. Releio Morangos Mofados, retomei as correspondências da Ana C., Felicidade Clandestina da Clarice e Johnny Panic da Sylvia. Comecei Notas do Subterrâneo do Dostoiévski, Verão no Aquário da Lygia [finalmente, Gisa] e Pequenos Pássaros da Anaïs. Agora me deparei novamente com as biografias de Sylvia e Clarice e os Diários da Sylvia. Como resistir a tal apelo? Li também um conto – amargo... - do Lobato, chamado Negrinha. Acredita que nunca havia lido nada dele? Como pode ver, vivo nesse turbilhão literário. Insisto em ignorar o sinal. Sim, há um sinal que me diz que devo me recolher, a tal “vida reclusa” que você já falou. Estou me desgastando muito rapidamente. Lembra do David Bowie em Fome de Viver? Claro, não com a mesma velocidade, mas... com intensidade, talvez? Devo parar de insistir nessa mesma tecla, ligando, ligando, ligando. Mas é como você diz: com quem iremos comentar todos esses livros? Os filmes? As músicas? Li um trecho da Ana dizendo – nas cartas - que a Sylvia levava tudo muito a sério demais. Quem sabe não será esse o nosso problema. Na palestra de hoje, na semana do Caio, a Amanda Costa falou sobre a presença da astrologia em suas obras. Leu um trecho [lindo, lindo] de As Frangas, chorou, leu trechos de cartas dele [ela segurava cartas de verdade! datilografadas, cheia de correções, observações e acréscimos a caneta, uma letra tão bonita]. Contou que foi o Caio que lhe apresentou Ana C. e Anaïs, as obras delas, diga-se de passagem. Não adianta. Eu corro, corro, mas é nos livros da Ana que eu sempre caio [o trocadilho foi sem querer. Será?].
Loviu.
P.S.: A propósito, a foto acima é da máquina de escrever de Mrs. Plath. Acredita?

1 commentaire:

Mme. A. a dit…

Prezado Sr. Sputnik,

Sei que esta carta não é para mim, talvez seja para alguém, talvez seja para ninguém. Muitas vezes escrevo cartas -- imaginárias ou não -- que ficam por aí, sem destinatários até algum dia, quando elas finalmente encontram o lixo ou mãos.

Estou escrevendo principalmente para dizer que existe alguma coisa muito estranha neste mundo que acaba fazendo com que as pessoas se cruzem muitas e muitas vezes até o dia em que uma decide pisar no pé da outra e os olhares se cruzam e as palavras escorrem. Por quê? Bem, podem ser as cordas invisíveis do universo que realmente amarram nossos destinos e nossas sinas, mas pode também ser nada além do puro acaso, o acaso e suas mãos brancas e longas, fazendo com que caiamos um em cima dos outros por quantas vezes forem necessárias. (Mas aí ele seria o destino também, não?)

Muitas vezes corro como vc, atrás de tantas palavras que não são minhas mas que me ajudariam a fazer algum sentido. Que me ajudariam a entender esta coisa que não sei o que é mas que me atormenta na grande maioria dos dias e das noites. Pulo de um lado para o outro, começo livros de deixo-os pelos cantos. Sempre olho para as paredes ainda acreditando que de repente o que procuro pode estar realmente numa fresta e não numa página, mas continuo me decepcionando -- com as palavras, com a falta delas e comigo mesma -- na grande maioria das vezes.

Vejo que ainda continua com sua obsessão por máquinas de escrever. Continuo com a minha necessidade de escrever, ainda que meus dedos e minha cabeça estejam em greve e tenham me deixado madura, caída, espatifada no chão, secando com este vendo maldito do inferno tropical.

Ainda não consegui me entender com um monte destes que vc cita mas também não vou entrar em méritos, mesmo porque a gente sempre tem mania de achar que algumas pessoas são santas e colocá-las em nossos pedestais pagãos. Tenho outros santos para os quais rezo e aos quais procuro em tempos de necessidade, mas ainda assim, nestes tempos de seca, quando até mesmo o sangue se foi de minhas veias, ainda assim meus talismãs e meus profetas não me valem de nada. Não me ajudam e não me molham os lábios.

Talvez eu realmente tenha me perdido no caminho, que é o que tenho concluído a cada vez que me olho no espelho novamente. Mas isso também não tem nada a ver com a carta nem com os motivos pelos quais escrevo aqui. Escrevo esta carta, que era para ser simplesmente um comentário, para dizer que ainda mais uma vez tropecei no seu blog de uma forma que só Stephen Hawkins conseguiria explicar (e eu já desisti da Física Quântica...).

Espero que esteja tudo bem. Espero que continue vivo, lendo, tropeçando e acertando.

Um abraço,

Alessandra