Esta é a mala de couro que contém a famosa coleção. Reparem nas minhas mãos, vazias. Meus bolsos também estão vazios. Meu chapéu também está vazio. Vejam. Minhas mangas. Viro de costas, dou uma volta inteira. Como todos podem ver, não há nenhum truque, nenhum alçapão escondido, nem jogos de luz enganadores. Ana Cristina Cesar
16 mars 2006
hearts & unicorns
- Está vendo? Se você tivesse ido embora mais cedo, não teria conhecido todos esses discos. O primeiro do Placebo que você tanto sonhava ouvir, o disco novo da Cat Power repleto de pianos e melancolia; não conheceria o lirismo de Gentle Waves, Wandula e Cida Moreira interpretando Chico Buarque, nem se surpreenderia com a beleza, a pose e a música de Annie da Giant Drag. Sem falar na exposição de fotos da Clarice que você passou um ano esperando que, finalmente, desembarcasse em Porto Alegre; na semana de homenagens ao Caio e na noite em que você passou sob luzes vermelhas ouvindo - pasmo - Sylvia Plath recitando suas poesias. Ah, e os filmes que você morria de vontade de ver? "2046" (com a Zhang Ziyi, belíssima), "Free Zone" (você começou a chorar logo no início do filme, na cena em que a Natalie Portman também chora dentro do carro) e mal podia conter a euforia durante a pré-estréia de "Maldito Coração" (Winona Ryder de volta à tela grande, após uma interminável espera). Olha tudo o que você perderia, seu bobo!
- Eu sei, eu sei. Mas de que vale viver todos esses momentos preciosos sem poder partilhá-los? É a mesma sensação de se estar escrevendo e falando para as paredes. Você quer ouvir uma resposta, quer mudar a vida de alguém. Pura burrice. Por mais explícitos que sejam os meus escritos, ou elas não entendem ou têm medo de entender ou realmente entendem, mas nada significa para elas.
- Você não está desviando o assunto?
- Estou querendo dizer que ninguém entende o que escrevo. E olha que nem sou sofisticado nem nada.
- As pessoas não querem se envolver...
- Sim, muito bonito essa idolatria toda diante de Sylvia Plath, Ana C., Virginia... Mas não eram pessoas fáceis de se conviver.
- Você quer que as pessoas o leiam? Enfie a cabeça no forno e ligue o gás. Ou pule... de que andar era mesmo?
- Claro, assim você passa a ser respeitado e finalmente compreendem você. A morte há que ser trágica ou prematura ou, ao menos, que se morra no ostracismo, no esquecimento, como fizeram com a Hilda Hilst... Simplesmente eu desisto de pedir socorro, ao menos assim, por escrito. Também não tenho a menor intenção de ir embora tão cedo. E sabe por que? O disco novo da Cat Power ainda nem saiu no Brasil.
- Aliás, Você já deu uma olhada na pilha de livros que o aguardam?
- Vamos para a Bienal do Livro em São Paulo e eu lhe conto minha grande história passional...
- Lá vem você, mudando de assunto de novo...
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