04 juillet 2005

jardim de centáureas

"possam as últimas bocas gritar alto
Numa floresta de gelo, num amanhecer de centáureas..."

Sylvia Plath


"Acima de tudo, quando se está usando um vestido azul francês e um chapéu de primavera novo, enfeitado com centáureas..."

Centáureas! Ela exclamou em pensamento. Fechou o pequeno livro de contos de Katherine Mansfield que comprara por seis reais. Uma pechincha. E as pessoas ainda querem argumentar que os livros estão caros, pensou, e que por isso não lêem. Ora, Cinco Contos de K. Mansfield por esse preço? Pois que fiquem com seu Diário Gaúcho de 50 cents e vibrem a cada linha escrita com violência e banalidade!
A palavra centáurea havia mexido com ela. Pegou papel e caneta e pôs-se a imaginar palavras que soassem incrivelmente belas, dessas que só se encontram em livros de ficção. Centáureas... um jardim delas. Talvez, à beira da morte, quando todos os tempos e momentos e pessoas vividos se misturam diante dos olhos, ela pudesse vislumbrar algo parecido.
Começou a fazer uma lista dessas palavras que, a seu modo, pareciam-lhe tão bonitas. Então lembrou-se de felicidade. Em português, ela tem a forma de um sorriso. Experimente pronunciá-la. Você logo sorri. Fe-li-ci-da-de... Parece que contagia!
Mas sua lista havia ficado apenas nessas duas palavras. O livrinho caíra suavemente no chão. E ela adormeceu sorrindo. Em seu jardim de centáureas.

2 commentaires:

Dane a dit…

tenho vivido o Bliss, mas de uma maneira tão estranha, nada de rompantes, é só uma coiisa bem de dentro mesmo sabe...
o meu Bliss

Mme. A. a dit…

fale para a menina escrever -- caso você a encontre por aí -- a palavra serendipity junto com felicidade e centáurea.

Ou quem sabe escrever "daydreams" na capa do caderno.