02 novembre 2006

da delicadeza


Lose Me On The Way
Lose me on the way
I've got a price to pay
Till I heard the north wind sigh
All the world's a flame
this heart will never be the same
She's the flower in your eyes now

What a fool of heart
Such a fool of heart
What a fool of heart
Such a fool...

Lose me on the way
She's the flower in your eyes now
All the world's a flame
this heart will never be the same
Never...

Lose Me On The Way - Hope Sandoval & The Warm Inventions

Quando se pensa que a delicadeza no mundo está com seus dias contados, um longo passeio por uma feira de livros em praça pública vem a me provar, com um grande e sonoro não, que ela, teimosamente, resiste. Poderia falar das relíquias encontradas nos balaios das barraquinhas. Por um punhado de cédulas de um real [não, eu não gasto mais minhas moedas, e até o momento contabilizava preciosos 19 reais e noventa centavos], pode-se levar "Henry e June" da Anaïs Nin; a 1ª edição de "Drops de Abril" do Chacal, amarelada e com os títulos dos poemas marcados a caneta; "Tontas Coisas", também do Chacal; "Madame Bovary" do Flaubert; "Savanah Bay" da Marguerite Duras ["não sabes mais quem és, quem foste, sabes que representaste, não sabes mais o que representaste, o que representas..."]; "Cartas de Amor a Heloísa" do Graciliano Ramos; "As Filhas do Falecido Coronel e Outras Histórias" da Katherine Mansfield. Tontas coisas, tantas coisas... Uma caixa de Pandora ao avesso. Dois daqueles tesouros viajarão dentro de um envelope marrom, cheios de histórias pra contar. Podes adivinhar quais são? No interior dessa feira, onde se caminha sob jacarandás e sobre flores de, em meio ao cheiro de pipoca, de livros novos ou amarelados [estes, os melhores], ao som da banda municipal, o tempo deixa de existir, você esquece de qualquer coisa que venha a lhe inspirar tristeza. Vai caminhando por entre as ruazinhas como numa cidade do interior. Um mundo à parte [como aquele da Pandora, antes de abrir a caixa]. Foi assim que fiz uma das minhas maiores descobertas, daquelas que fazem seu coração disparar e provocam um indisfarçável sorriso. Entrei no stand da Argentina e fiquei bem assim, diante de um livrinho de tiras do Macanudo. Ria de felicidade. Rios de felicidade. Meus olhos brilharam outra vez. Estava diante de uma delicadeza como a que se vê apenas em histórias da Mafalda e do Snoopy, repleta de sutilezas, de poesia, de encantamento. Delicadezas existem, sim. E o mundo está cercado delas.

4 commentaires:

Anonyme a dit…

Nunca te imaginei dizendo coisas tão doces. Que lindas são as surpresas.

Ana Karina Silva a dit…

de extrema delicadeza são as palavras escolhidas por ti para descrever um passeio à feira do livro.
invejinha cor-de-rosa do teu passeio. ainda não fui. =[
será q encontrarei a minha caixinha de Pandora tb??

Anonyme a dit…

É vc Dli, a maior delicadeza. Sempre a maior, a que nos faz desejar ser também, assim, outra e outra delicadeza...

Anonyme a dit…

Leio sempre e sempre gosto. Para mim um dos seus escritos mais belos.
E sim, é vc a maior delicadeza.