24 novembre 2006

estrelinhas pelo chão




Eu não vou tentar explicar o que eu não posso entender
É um pássaro, é um avião, é apenas uma noite
Se ao menos eu pudesse ir para bem longe
Eu te esqueceria completamente
É um blefe
Não tem como não lembrar...


Will, The Dresden Dolls


Nem poderia dizer que, na sua vida, corria sequer um fiozinho d'água, uma vertente milagrosa com água potável que lhe pudesse refrescar a garganta e o rosto. Nem lama no rastro deixado pela extinta corrente d'água que pudesse moldar, esboçar uma silhueta de barro ou na qual pudesse plantar alguma semente de algo qualquer.
São como esses dias de ar parado, onde nenhuma folha se mexe, sem previsão de chuva. E os dias serão longos, sabe que esses dias serão insuportavelmente longos, arrastados, intransponíveis, desgastantes, sufocantes, desesperadores. Nas mãos, uma caixa repleta de estrelinhas azuis encontradas pelo chão da casa, fotos antigas, cartas, dezenas delas, objetos que outrora habitaram um outro quarto, papéis de bombom, desenhos, livros com dedicatória, discos gravados, uma caixa repleta de promessas, aromas, sons, calor, gestos e gostos, sentimentos. Ao seu lado, uma mala com roupas que não são suas. Ela sabe que nada do que existe ali lhe pertence, jamais lhe pertenceu. Desde então, perdeu a fala, mergulhou em completo silêncio. Foram-se apagando os rabiscos de brilho que, por breves momentos, insinuaram-se no seu sorriso, nos olhos, no coração, no modo como encarava a vida e as pessoas à sua volta. Breves momentos em que acreditou na eternidade.

1 commentaire:

verbosemsujeito a dit…

E ela continuou a sentir-se assim... lá no meu blog.