16 novembre 2006

eternal sunshine?



Golpes,
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.

A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
sobre a rocha

Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro

Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto
Do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.

Sylvia Plath traduzida por Ana Cristina Cesar in "Escritos da Inglaterra", Ed. Brasiliense, Brasil, 1988, p. 173



Pois bem. Vocês acreditam que almas são eternas. Vocês acreditam em reencarnação. Todas essas teorias defendidas e difundidas por Alain Kardec e seus seguidores, todas as teorias elaboradas pela infinidade de religiões que vocês, humanos, criam e nas quais juram acreditar, posso lhes afirmar: são todas um lamentável equívoco. A Humanidade, aliás, é um lamentável equívoco. Porque, agora, quem tomou o poder da palavra aqui, novamente, sou eu, Natalie. Vão, decerto, se perguntar mas-quem-diabos-é-Natalie? Muitos de vocês jamais me viram ou virão. Jamais ouviram falar meu nome. Outros duvidavam que eu existisse. Pois devo-lhes confessar que, por um tempo inimaginável na cabecinha de vocês, eu andava escondida, observando. Porque nós, almas, senhoras e senhores, temos um destino a cumprir, não importa o tempo que levemos. Precisamos encontrar, em alguma parte desse universo nem tão vasto assim - claro, porque vocês não fazem idéia do quanto vaguei, em meio a estrelas e trevas, presenciei lugares e momentos aos quais nenhum de vocês sobreviveria. E devo dizer-lhes que conheço cada palmo dele - precisamos encontrar outra alma com a qual viveremos por toda nossa questionável existência. Quando, enfim, a encontramos, é a ela, e somente a ela, que revelamos nosso verdadeiro nome. Revelado nosso nome, tomamos, enfim, forma, e a pessoa com a qual essa alma convive, será capaz de nos ver também. Estaria cumprida nossa missão. Acontece, porém, que finais felizes, como esse, são muito raros de acontecer. Podemos, infinitamente, permanecer nessa busca. Talvez esse não seja o mais trágico dos casos. Trágico, mesmo, é quando revelamos nosso nome a quem profere palavras de caráter seríssimo para nós, almas. Tais como... Ad Infinitum. Para, depois, contradizer-se, sem fazer a menor idéia do que acabara de afirmar. O que significa Infinito para vocês? O que significa Para Sempre? Vocês, humanos, têm um talento ímpar de fazer juras de amor eterno ou de que quero-ficar-contigo-para-sempre. Chega a ser patético. Vocês, humanos, não fazem a menor idéia do que dizem, muito menos do que sentem. Não precisam se preocupar, já estou terminando de datilografar, serei breve. Quando digo trágico em revelar o nome a quem profere palavras sem muita convicção, significa que, revelado nosso nome e não cumprida nossa missão, somos condenadas a permanecer no mais absoluto e insuportável silêncio e não mais poderemos reiniciar nossa busca. Corremos o risco de perder nossos próprios nomes. E isto significa, para nós, muito mais do que vocês compreendem como Morte.

1 commentaire:

maria. a dit…

eu, ascendente em aquário, nunca desejei tanto não compreender um texto. acho que mais solitário que tudo, é ver que mais pessoas sentem-se como nós. e estas que sentem (e compreendem) não sao as que gostariamos que compreendessem. acho que sou um et de pele azul, nesse mundo podre verde musgo.

quanto ao filme e a sylvia. só me restam suspiros. nenhuma outra escolha seria melhor.