28 juin 2005

Primeiro de janeiro [je ne parle pas français]

Tudo que tenho lido de Katherine Mansfield - e sobre Katherine Mansfield - me soa extremamente perturbador. Quando li "Bliss", o efeito foi imediato. Olhava à minha volta como se visse tudo pela primeira vez, como essas manhãs ou tardes logo após a chuva quando o sol aparece feito um milagre. Ou como, quando criança, olhava para o céu no dia primeiro de janeiro e acreditava que o céu era diferente no ano novo. Ontem fiquei paralisado diante do livro de contos de capa verde, escrito bem grande: K. MANSFIELD, um verde imitando bordado. Abri ao acaso: "Je ne parle pas français". Foi uma sensação assustadora e fascinante de me ver ali, descrito minuciosamente naquelas páginas. Não sabia se ria, se chorava, se saia correndo, se arrancava as páginas do livro, se morria. Ou se ficava exatamente daquele jeito: paralisado. O que tem essa mulher que conhece tão profundamente cada um de nós, cada pensamento? Foi quando me ocorreu de procurar socorro em outras páginas. Ali! Achei! Ele mesmo! Ah, Cacaso! Com seus versos curtos e certeiros, por vezes desbocados e até engraçados. Sentado no corredor da livraria, armado de papel e caneta, comecei a roubar versos...
"No triângulo amoroso o círculo tende
a vicioso"...
"Não sou amado no amor: sou
Amador"...
Um lero-lero com Cacaso foi o que me salvou.

1 commentaire:

Dane a dit…

adoro ficar de lero lero com o cacaso, ontem mesmo dei uma oiada!