Be good so we’re all by ourselves
The great big holidays about to begin
A thousand miles after from where it all begins
Oh world, the whole world is
Going on and on, back in to the touch
It’s moving on again
Going on and on
What’s next?
I’m out of time
Losing my touch I can feel
Speak for me; you’ll see the same signs
Do you know how to read between the lines?
All now it’s all for now, all for one.
What you want?
Big ol’ south of a liner
Stranded and strange just as innocence gets
I’m not leaving out they are trying to forget.
The whole world, the whole world is
Going on and on
Back in to the touch, it’s moving on again
Going on and on
What’s next?
I’m out of time.
Losing my touch
I can feel
Speak for me; you’ll see the same signs
Do you know how to read between the lines?
All now it’s all for now, all for one.
What you want?
Going on and on...
É aquela música, D., com todas as letras. Pra você cantá-la feito Stevie Wonder, debruçada na janela, com seu cigarro. E as estrelas embaçadas no céu paulistano terão uma difícil escolha. Você ou a Lua? Será que a Lua terá coragem de aparecer? Noites quentes em Porto Alegre. Um filme: "Passagem Azul", repleto de sutilezas, que me lembrou as conversas com a KK. O filme já saiu de cartaz, KK, e eu vou ter que que lhe contar a história. É assim: numa escola de Ensino Médio em Taiwan, menina ama menino que ama a amiga da menina, amada pela amiga. Inquietações, sonhos, inseguranças. As perguntas se repetem sem resposta. Pode até parecer um filme triste, mas o final é belíssimo, sem muitas explicações [as sutilezas, que tanto prezamos]. Daqueles que nos paralisam na poltrona do cinema, boquiabertos, com os pensamentos borbulhando. Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo? Li isso em algum lugar. Frase célebre de alguma celebridade que esqueci o nome.
Esta é a mala de couro que contém a famosa coleção. Reparem nas minhas mãos, vazias. Meus bolsos também estão vazios. Meu chapéu também está vazio. Vejam. Minhas mangas. Viro de costas, dou uma volta inteira. Como todos podem ver, não há nenhum truque, nenhum alçapão escondido, nem jogos de luz enganadores. Ana Cristina Cesar
31 décembre 2004
31.Dez.2004 a.C.
Estou extremamente tranqüilo neste exato instante em que escrevo, último dia do ano, camiseta preta da Morte, chocolate no almoço e meus pensamentos embalados pela Justine. Tenho metas bem definidas, vejam vocês. E os trilhos do metrô nem fazem parte dos meus planos. Não vou fazer listinha de realizações, fazer retrospectiva nem avaliar os 365 dias passados no inferno. Aquele ano durou apenas um mês, e foi dezembro. Único mês digno de ser lembrado. Foi quando algumas pessoas inacreditavelmente fascinantes apareceram e salvaram a minha vida sem perceber. Voltei a escrever (embora mal), voltarei à faculdade (não a mental, porque essa eu esqueci no bolso da calça que foi lavada na máquina), entre outros planos razoavelmente sensatos. Devo minha vida, também, a Kafka, Dostoiévski, Carpinejar, Ana C., Sylvia Plath, Anaïs Nin, Clarice Lispector, cujos livros me abrigaram dos piores pesadelos. Aos textos da Dani e KK, falados , escritos e telegrafados. Alguns filmes inesquecíveis. Conversas intermináveis, algumas boas risadas (adesivos no teto do ônibus, cafés trocados, filmes literalmente queimados). Livrarias. Às músicas de Cat Power ( Speak for Me), Beck, My Bloody Valentine, Siouxsie & The Banshees (Swimming Horses), Pretenders, Garbage, Arnaldo Baptista, Tom Petty. À banda Justine (Perto do Fim), humildemente homenageada com uma comunidade no Orkut (criada justamente hoje, não poderia haver data melhor). E olha que nunca mais procurei minha médica homeopata (eu temia pela saúde dela). Começo a acreditar que novembro, definitivamemte, terminou.
30 décembre 2004
A paixão da sua vida
Amava a morte. Mas não era correspondido. Tomou veneno. Atirou-se de pontes. Aspirou gás. Sempre ela o rejeitava, recusando-lhe o abraço. Quando finalmente desistiu da paixão entregando-se à vida, a morte, enciumada, estourou-lhe o coração. [Marina Colasanti]
Roubei esse texto descaradamente do blog de uma de minhas mais veneradas e fascinantes amigas [http://palavrassecas.blogspot.com]. Em tempo: o nome foi inspirado num poema da minha escritora-fetiche Sylvia Plath. "Palavras secas, sem destino/ Incansável som de cascos...". Um dos poemas mais fascinantes de todos os tempos.
Roubei esse texto descaradamente do blog de uma de minhas mais veneradas e fascinantes amigas [http://palavrassecas.blogspot.com]. Em tempo: o nome foi inspirado num poema da minha escritora-fetiche Sylvia Plath. "Palavras secas, sem destino/ Incansável som de cascos...". Um dos poemas mais fascinantes de todos os tempos.
JUSTINE
"Eu sempre soube
Um dia, eu ia precisar
De todas as coisas que você falou
E eu fingia ouvir por educação
Mas agora que eu preciso tanto
Meu coração insiste em relembrar
A cabeça já apagou
Daí se um dia desses
Eu ligar,
Não me despreze
Diga, por favor,
Tudo de novo
Pra eu reaprender
Quem sabe, assim,
Eu possa me salvar
Talvez, então, eu não esteja
Tão perto do fim." ["Perto do Fim", Justine, banda de Porto Alegre]
Foi o que ouvi até as duas da manhã. Justine. Ouvi a mesma música por horas. Escrevi cinco páginas de um fôlego só. Quero voltar pra casa e ouvir essa música de novo. Justine é a melhor banda do mundo desde ontem. E ontem foi um dos melhores dias do mundo, sepultou 2004 com dignidade.
Um dia, eu ia precisar
De todas as coisas que você falou
E eu fingia ouvir por educação
Mas agora que eu preciso tanto
Meu coração insiste em relembrar
A cabeça já apagou
Daí se um dia desses
Eu ligar,
Não me despreze
Diga, por favor,
Tudo de novo
Pra eu reaprender
Quem sabe, assim,
Eu possa me salvar
Talvez, então, eu não esteja
Tão perto do fim." ["Perto do Fim", Justine, banda de Porto Alegre]
Foi o que ouvi até as duas da manhã. Justine. Ouvi a mesma música por horas. Escrevi cinco páginas de um fôlego só. Quero voltar pra casa e ouvir essa música de novo. Justine é a melhor banda do mundo desde ontem. E ontem foi um dos melhores dias do mundo, sepultou 2004 com dignidade.
28 décembre 2004
Criança
O olho claro é a coisa mais bonita em você.
Quem dera enchê-lo de patos e cores,
Zôo do novo,
Nomes em que você pensa -
Campânula-de-abril, cachimbo-de-índio,
Pequenino
Caule sem espinhos,
Lagos em cujas margens, imagens
Pudessem ser clássicas e imensas...
[Sylvia Plath]
É para você que estou escrevendo...
Quem dera enchê-lo de patos e cores,
Zôo do novo,
Nomes em que você pensa -
Campânula-de-abril, cachimbo-de-índio,
Pequenino
Caule sem espinhos,
Lagos em cujas margens, imagens
Pudessem ser clássicas e imensas...
[Sylvia Plath]
É para você que estou escrevendo...
Novembro
Minhas últimas anotações no caderno soaram demasiadamente banais para transcrevê-las aqui. Frases interrompidas, abortadas. Longo silêncio e reticências intermináveis......Recuperei o CD da Siouxsie que me roubaram. Comprando outro, claro, junto com o 1° da Rita Lee, de 1970. Naquela época, você talvez fosse um aglomerado de poeira de estrelas, antes que pudesse sonhar em nascer... Foi um tanto estranho ouvi-la dizer que, quando criança, o disco da sua vida fosse "V". Engraçado porque, nos meus vinte-e-poucos, o que regia a minha vida era o "Dois", com suas letras desesperançadas e amargas. Apaixonado por quem nem conhecia o rosto. Amava as palavras, o cheiro que vinha com as cartas. Vivia de correspondências e letras de música, recortes de revistas e telefonemas. Todas as manhãs à espreita do carteiro, a carta embaixo da porta. Tempo de acreditar e amar. Uma espécie de transe do qual só acordaria definitivamente com um golpe de misericórdia. Um telefonema com frases curtas e certeiras. Não da autora das cartas, mas por outra pessoa, muito tempo depois. Vida virada do avesso. Frágil e confuso Novembro. Por que aquele mês nunca termina?
24 décembre 2004
Vôo Cego
Esses são os erros, solitários e lentos,
Que matam, matam, matam." [S. Plath, "Olmo"]
Para D.
devo deixar que meus pensamentos voem
o quanto quiserem
e, com eles, carreguem essas palavras
que jamais alcanço?
Que matam, matam, matam." [S. Plath, "Olmo"]
Para D.
devo deixar que meus pensamentos voem
o quanto quiserem
e, com eles, carreguem essas palavras
que jamais alcanço?
Para a Menina do Lago Ness
"Sou fã de dias de chuva
Acho que deixei meu coração
no porta-luvas" Greta Benitez, poeta curitibana
Está claro que você chegou muito perto, mais até do que a mim diante de mim mesmo. O labirinto não era mistério algum. Brincadeira de criança pra você. Como se já conhecesse todas as respostas e soluções para as mais variadas táticas do xadrez ou daqueles cubinhos coloridos. Como se, desde o início, você soubesse que eu estava blefando. Mas é a mais pura verdade (se é que isso ainda existe). Eu não sei fingir, não sei usar todas essas armas e a minha pontaria e péssima. Na melhor das hipóteses, atiro no meu próprio pé. Talvez minha única semelhança com o Monstro do Lago Ness seja com a fragilidade da própria existência, pronta para ser desmascarada. Mas eu preferia imaginar uma criatura repleta de mistérios que poucos crêem, uma fantasia doce e instigante. Porque essa é a imagem que você transmite. Talvez sejamos mesmo esses personagens de Histórias em Quadrinhos ou de algum romance fantástico, que rondam por entre os Mortais em busca de... algumas vítimas? De alguns corações para devorar? Ou apenas compreensão, carinho e honestidade? Honestidade. Francamente, não sei por que essa palavra ainda sobrevive nos dicionários. Compreensão. Onde é que eu estava com a cabeça para citar essas palavras tão absurdas? Se bem que... você chegou tão perto. Você está, de fato, diante de mim. É capaz de saber o que está escrito ou o que virei a escrever, como se você existisse desde sempre. Estaria penalizada com minha triste sorte? Com qual dos Perpétuos você se assemelha? À ruivinha Delírio? Já me disseram que eu era Morpheus. Isso foi uma menina de cabelos coloridos e fitas que disse, ao cruzar pela minha vida uma certa vez, num certo bosque encantado. Veja! Eu até consigo esquecer que a Vida é apenas um poço sem fundo, sombrio e fétido. Se eu já começo a vislumbrar bosques encantados e monstros emergindo dos lagos, é bem provável que você tenha uma boa parcela dessa culpa. Se minhas frases sem nexo já encontram um certo sentido, a causa disso tudo é você também. Estamos bem mais próximos do que eu poderia imaginar...
Acho que deixei meu coração
no porta-luvas" Greta Benitez, poeta curitibana
Está claro que você chegou muito perto, mais até do que a mim diante de mim mesmo. O labirinto não era mistério algum. Brincadeira de criança pra você. Como se já conhecesse todas as respostas e soluções para as mais variadas táticas do xadrez ou daqueles cubinhos coloridos. Como se, desde o início, você soubesse que eu estava blefando. Mas é a mais pura verdade (se é que isso ainda existe). Eu não sei fingir, não sei usar todas essas armas e a minha pontaria e péssima. Na melhor das hipóteses, atiro no meu próprio pé. Talvez minha única semelhança com o Monstro do Lago Ness seja com a fragilidade da própria existência, pronta para ser desmascarada. Mas eu preferia imaginar uma criatura repleta de mistérios que poucos crêem, uma fantasia doce e instigante. Porque essa é a imagem que você transmite. Talvez sejamos mesmo esses personagens de Histórias em Quadrinhos ou de algum romance fantástico, que rondam por entre os Mortais em busca de... algumas vítimas? De alguns corações para devorar? Ou apenas compreensão, carinho e honestidade? Honestidade. Francamente, não sei por que essa palavra ainda sobrevive nos dicionários. Compreensão. Onde é que eu estava com a cabeça para citar essas palavras tão absurdas? Se bem que... você chegou tão perto. Você está, de fato, diante de mim. É capaz de saber o que está escrito ou o que virei a escrever, como se você existisse desde sempre. Estaria penalizada com minha triste sorte? Com qual dos Perpétuos você se assemelha? À ruivinha Delírio? Já me disseram que eu era Morpheus. Isso foi uma menina de cabelos coloridos e fitas que disse, ao cruzar pela minha vida uma certa vez, num certo bosque encantado. Veja! Eu até consigo esquecer que a Vida é apenas um poço sem fundo, sombrio e fétido. Se eu já começo a vislumbrar bosques encantados e monstros emergindo dos lagos, é bem provável que você tenha uma boa parcela dessa culpa. Se minhas frases sem nexo já encontram um certo sentido, a causa disso tudo é você também. Estamos bem mais próximos do que eu poderia imaginar...
Mais Uma da Série "Anotações Perdidas Para Todo o Sempre"
"Tenho tropeçado no caminho. Nuvens florescem
Azuis e místicas sobre a face das estrelas..." S.Plath
Tudo o que havia vivido, até então, resumia-se agora às páginas de um livro sendo lido no banco do metrô, perto da janela. Sua vida passava com a paisagem, ambas tediosas e apagadas. O que faz toda essa multidão dentro do metrô? Todas essas existências anônimas? Ela, apenas mais uma a afundar no Mar Negro do Esquecimento. Debatendo-se na lama, na tentativa inútil de sobreviver. Desejava jamais ter chegado tão perto, mergulhado tão fundo em seus pensamentos que ferviam feito lava. Queria jamais ter questionado o que era, afinal, estar viva nesse planeta afogado no vazio. Hava perdido a noção do tempo e da razão. Existia apenas. Por quanto tempo? Viver é estar em sono profundo? Ela sequer lembrava-se de seus sonhos. Será que sonhava? Alice no País das Maravilhas era a única história sensata de que se lembrava, parecia uma perseguição. Soava-lhe estranhamente familiar. Viver, então, é mergulhar nesses delírios, esquecer-se da própria existência? Não enxergava sentido em coisa alguma, porque, afinal, vivia à margem de seu próprio sonho. Onde está a resposta, afinal? Que diabo de lugar é esse? Lembrou-se de uma foto publicada na revista Seleções que ela havia visto quando era muito pequena, uma foto do Monstro do Lago Ness. Alguém lhe falou há pouco sobre esse Monstro, algo perdido em seus sonhos tão distantes. Olhou para as pessoas refletidas na janela do metrô. A Vida é apenas uma fantasia.
Azuis e místicas sobre a face das estrelas..." S.Plath
Tudo o que havia vivido, até então, resumia-se agora às páginas de um livro sendo lido no banco do metrô, perto da janela. Sua vida passava com a paisagem, ambas tediosas e apagadas. O que faz toda essa multidão dentro do metrô? Todas essas existências anônimas? Ela, apenas mais uma a afundar no Mar Negro do Esquecimento. Debatendo-se na lama, na tentativa inútil de sobreviver. Desejava jamais ter chegado tão perto, mergulhado tão fundo em seus pensamentos que ferviam feito lava. Queria jamais ter questionado o que era, afinal, estar viva nesse planeta afogado no vazio. Hava perdido a noção do tempo e da razão. Existia apenas. Por quanto tempo? Viver é estar em sono profundo? Ela sequer lembrava-se de seus sonhos. Será que sonhava? Alice no País das Maravilhas era a única história sensata de que se lembrava, parecia uma perseguição. Soava-lhe estranhamente familiar. Viver, então, é mergulhar nesses delírios, esquecer-se da própria existência? Não enxergava sentido em coisa alguma, porque, afinal, vivia à margem de seu próprio sonho. Onde está a resposta, afinal? Que diabo de lugar é esse? Lembrou-se de uma foto publicada na revista Seleções que ela havia visto quando era muito pequena, uma foto do Monstro do Lago Ness. Alguém lhe falou há pouco sobre esse Monstro, algo perdido em seus sonhos tão distantes. Olhou para as pessoas refletidas na janela do metrô. A Vida é apenas uma fantasia.
23 décembre 2004
Seiscentos e sessenta e seis
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ª feira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre, sempre em frente...
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Mario Quintana
Quando li isso, um nó na garganta foi inevitável. Somos movidos por esses números que os homens (sim, naquela época, como agora, o machismo sempre imperou...) inventaram para marcar o tempo. Comemoramos datas e aniversários, o primeiro beijo e a primeira transa, Natal, 30 anos de casamento, 980 anos de trabalho, Páscoa, Dia das Mães e até Finados. Comemorar Ano Novo... Peraí, e vocês acreditam mesmo que estão no ano de 2004, Século XXI? Ano Novo Chinês, Ano Novo Judaico... Acho que fico com o mais antigo...
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ª feira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre, sempre em frente...
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Mario Quintana
Quando li isso, um nó na garganta foi inevitável. Somos movidos por esses números que os homens (sim, naquela época, como agora, o machismo sempre imperou...) inventaram para marcar o tempo. Comemoramos datas e aniversários, o primeiro beijo e a primeira transa, Natal, 30 anos de casamento, 980 anos de trabalho, Páscoa, Dia das Mães e até Finados. Comemorar Ano Novo... Peraí, e vocês acreditam mesmo que estão no ano de 2004, Século XXI? Ano Novo Chinês, Ano Novo Judaico... Acho que fico com o mais antigo...
20 décembre 2004
faz-de-conta
Não quero mais olhar para os lados, enquanto caminho, nem para esses olhos e rostos de reprovação. Não quero que me encarem com esses ares de superioridade. Não quero mais ouvir os mesmos discursos, as mesmas frases feitas que não são fórmulas mágicas, esqueçam isso. Não façam de conta que eu existo...
19 décembre 2004
Nietzsche [Interpretação Livre de Antônio Abujamra]
E se um dia um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse:" Esta vida, assim como a vives e sempre viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes, não haverá nela nada de novo! Cada dor, cada pensamento, tudo que há de pequeno em tua vida há de retornar. Tudo, na mesma ordem e sequência. E, do mesmo modo, esse instante e eu próprio: o demônio. O eterno relógio da existência reiniciará outra vez a contagem do seu tempo, e do tempo das tuas desgraças." Não te lançarias ao chão rangendo os dentes e amaldiçoando o demônio? Não, não. Responderias medrosamente que nunca te disseram algo mais divino. Diga, nunca te disseram algo mais divino? Mentirias que queres para sempre a tua própria desgraça? Vê bem, se disseres que sim, estarás apenas piorando a eternidade.
Presente precioso enviado pela Dani, ja devidamente devorado. Obrigado, Dani. De coração.
Presente precioso enviado pela Dani, ja devidamente devorado. Obrigado, Dani. De coração.
18 décembre 2004
Daniela
Daniela, ela senta-se junto à árvore no recreio
às vezes vamos até lá e todas as crianças brincam
Mas ninguém me sabe dizer onde de fato está Daniela
quando ela olha para longe daquela maneira
Daniela, o teu cabelo cresce bravio como uma selva
como um jardim de heras que foi soprado pelo vento
De manhã escovamo-lo e prendêmo-lo com uma fita
e ao fim do dia ele ganhou asas uma vez mais
Durante a tarde quando o dia parece eterno
e a noite parece que nunca chega, nessa altura ela suspira
Mas ninguém me sabe dizer onde de fato está Daniela
quando os pensamentos dela divagam em direção ao céu
Ilana á a amiga dela e corre rápido como um esquilo
tem uns grandes olhos castanhos e às vezes chora
Mas pára quase logo e ambas brincam juntas
fazendo castelos e tartes de morango
E às vezes Daniela acredita que é um pardal
senta-se à janela e come sementes de girassol
Observa a chuva e os pássaros nos telhados
e muitas vezes me pergunto o que será que ela vê
Durante a tarde quando o dia parece eterno
e a noite parece que nunca chega, nessa altura ela suspira
Mas ninguém me sabe dizer onde de fato está Daniela
quando os pensamentos dela divagam em direção ao céu
(Suzanne Vega, 1976, aos 16 anos)
às vezes vamos até lá e todas as crianças brincam
Mas ninguém me sabe dizer onde de fato está Daniela
quando ela olha para longe daquela maneira
Daniela, o teu cabelo cresce bravio como uma selva
como um jardim de heras que foi soprado pelo vento
De manhã escovamo-lo e prendêmo-lo com uma fita
e ao fim do dia ele ganhou asas uma vez mais
Durante a tarde quando o dia parece eterno
e a noite parece que nunca chega, nessa altura ela suspira
Mas ninguém me sabe dizer onde de fato está Daniela
quando os pensamentos dela divagam em direção ao céu
Ilana á a amiga dela e corre rápido como um esquilo
tem uns grandes olhos castanhos e às vezes chora
Mas pára quase logo e ambas brincam juntas
fazendo castelos e tartes de morango
E às vezes Daniela acredita que é um pardal
senta-se à janela e come sementes de girassol
Observa a chuva e os pássaros nos telhados
e muitas vezes me pergunto o que será que ela vê
Durante a tarde quando o dia parece eterno
e a noite parece que nunca chega, nessa altura ela suspira
Mas ninguém me sabe dizer onde de fato está Daniela
quando os pensamentos dela divagam em direção ao céu
(Suzanne Vega, 1976, aos 16 anos)
16 décembre 2004
My Fair [Sophisticated] Lady
Preferi escrever assim, direto, sem ensaio, sem rascunho. Porque, o que estou escrevendo nesse exato instante, é exatamente o que estou tentando transmitir. Quando li teu email, te juro, estava diante da síntese de toda a minha aflição, desespero silencioso diante do mundo, das pessoas à minha volta, de todas essas mentiras que nos obrigam a engolir. Essas pessoas que tentam nos subestimar, Lady, são as que mais nos temem. Parecemos intransponíveis, arrogantes, depressivos, mas não somos difíceis. Nossa felicidade pode resumir-se a algumas páginas de um livro lido no metrô ou mesmo de pé, diante das prateleiras da Livraria Cultura. A uma música que toque fundo e traduza em melodia nossas dores. Somos temíveis porque não hesitamos ir até o fundo, embora quase sempre nos machuquemos. E a vida está aí mesmo para ser virada do avesso, questionada, amada, odiada e, o mais difícil, compartilhada. Saímos do ar com o que aparentemente pode ser tão banal, podemos chorar copiosamente com a cena de um filme ou com uma música da Cat Power. No escuro do cinema, hoje à noite, meus pensamentos começaram a borbulhar. Temia que a vontade de escrever fosse mais forte, que as palavras quisessem nascer ali mesmo, no meio da sessão de "Longe" (poderia haver título mais sugestivo?).
14 décembre 2004
Água e Sal
"Naquela noite a lua
Arrastou seu saco de sangue, animal
Doente
Por sobre as luzes do cais..."
Sylvia Plath
Agora começo a juntar pacientemente os pedaços espalhados no chão. Cacos de um vaso barato sobre a calçada, encharcada dessa chuva fina que não cessa. Gosto amargo na boca. Nó na garganta. O sangue coagulado à minha volta é sangue morto. Vida que não retorna. Passado que não se resgata.
Não abro a gaveta de talheres com a mesma freqüência, nem com o mesmo entusiasmo. E a tesoura, uso-a apenas para abrir a caixa de leite. Não procuro mais pelas fotos no fundo da caixa de sapatos. Sensação leve e amarga de uma vida perdendo a nitidez, como uma foto sem foco. Vou diluindo-me aos poucos. Sal diluindo-se na água. Até perder-me de vista.
Arrastou seu saco de sangue, animal
Doente
Por sobre as luzes do cais..."
Sylvia Plath
Agora começo a juntar pacientemente os pedaços espalhados no chão. Cacos de um vaso barato sobre a calçada, encharcada dessa chuva fina que não cessa. Gosto amargo na boca. Nó na garganta. O sangue coagulado à minha volta é sangue morto. Vida que não retorna. Passado que não se resgata.
Não abro a gaveta de talheres com a mesma freqüência, nem com o mesmo entusiasmo. E a tesoura, uso-a apenas para abrir a caixa de leite. Não procuro mais pelas fotos no fundo da caixa de sapatos. Sensação leve e amarga de uma vida perdendo a nitidez, como uma foto sem foco. Vou diluindo-me aos poucos. Sal diluindo-se na água. Até perder-me de vista.
Tubos
Minha amiga fez endoscopia. Começo a pensar nos milagres que a medicina promete e não cumpre, nos médicos cada vez mais incompetentes que compram diploma, nas recepcionistas burras e nas revistas Caras na sala de espera, no ar condicionado gelado demais (ou não condicionado). Nas perguntas irrespondíveis dos médicos, nos pacientes que levam os filhinhos pra estragar os sofás e rasgar as revistas, nas madames de última com seus celulares de último tipo. No cheiro do consultório, no meu cartão da UNIMED que foi roubado com todo o resto. K., tu és corajosa pacas...
Mergulho
Sua vidinha tornara-se um castelo de cartas, um castelo de areia. Hoje, são os escombros das Torres Gêmeas. E não há nada, nem ninguém, capaz de convencê-lo de que existe algum sentido na vida. Existe? Algo? Alguém? Sentido? Até onde você é capaz de mergulhar e buscar a resposta para essa pergunta? "A vida é uma espécie de loucura que a morte faz". Quem disse isso? Clarice Lispector? As pessoas não ousam sair do raso, agarram-se às suas patéticas bóias ou à borda da piscina.
Hoje, o que o mantém vivo, são todos esses livros, são os discos do Placebo, conversas esparsas ao telefone, encontros esparsos com amigos esparsos. Ao longe, observa, sem compaixão, essa busca inútil das pessoas por algo, que, lamentavelmente, não existe. Esse algo-que-não-existe, contraditoriamente, é o que as mantém, digamos, vivas, com os pés mantidos razoavelmente no chão. Um bando de lemingues obcecados e cegos, com medo de mergulhar.
Hoje, o que o mantém vivo, são todos esses livros, são os discos do Placebo, conversas esparsas ao telefone, encontros esparsos com amigos esparsos. Ao longe, observa, sem compaixão, essa busca inútil das pessoas por algo, que, lamentavelmente, não existe. Esse algo-que-não-existe, contraditoriamente, é o que as mantém, digamos, vivas, com os pés mantidos razoavelmente no chão. Um bando de lemingues obcecados e cegos, com medo de mergulhar.
Tentáculos
Meus pensamentos são, agora, como tentáculos desgovernados que não se prendem a coisa alguma...
Elixir Paregórico
07 décembre 2004
Crises, crises...
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