14 décembre 2004

Água e Sal

"Naquela noite a lua
Arrastou seu saco de sangue, animal
Doente
Por sobre as luzes do cais..."

Sylvia Plath

Agora começo a juntar pacientemente os pedaços espalhados no chão. Cacos de um vaso barato sobre a calçada, encharcada dessa chuva fina que não cessa. Gosto amargo na boca. Nó na garganta. O sangue coagulado à minha volta é sangue morto. Vida que não retorna. Passado que não se resgata.
Não abro a gaveta de talheres com a mesma freqüência, nem com o mesmo entusiasmo. E a tesoura, uso-a apenas para abrir a caixa de leite. Não procuro mais pelas fotos no fundo da caixa de sapatos. Sensação leve e amarga de uma vida perdendo a nitidez, como uma foto sem foco. Vou diluindo-me aos poucos. Sal diluindo-se na água. Até perder-me de vista.

2 commentaires:

Dane a dit…

Não se dilua querido porque eu sou uma Sopisticated Lady, e adorei teu pequeno texto, e vou te dar dicas para usar a tesoura, vou te dar coisa pra encher as gavetas...

Dane a dit…

...se eu continuar a ouvir Cat Power eu derreto...ME IMPEÇAAAAAAAAA