Preferi escrever assim, direto, sem ensaio, sem rascunho. Porque, o que estou escrevendo nesse exato instante, é exatamente o que estou tentando transmitir. Quando li teu email, te juro, estava diante da síntese de toda a minha aflição, desespero silencioso diante do mundo, das pessoas à minha volta, de todas essas mentiras que nos obrigam a engolir. Essas pessoas que tentam nos subestimar, Lady, são as que mais nos temem. Parecemos intransponíveis, arrogantes, depressivos, mas não somos difíceis. Nossa felicidade pode resumir-se a algumas páginas de um livro lido no metrô ou mesmo de pé, diante das prateleiras da Livraria Cultura. A uma música que toque fundo e traduza em melodia nossas dores. Somos temíveis porque não hesitamos ir até o fundo, embora quase sempre nos machuquemos. E a vida está aí mesmo para ser virada do avesso, questionada, amada, odiada e, o mais difícil, compartilhada. Saímos do ar com o que aparentemente pode ser tão banal, podemos chorar copiosamente com a cena de um filme ou com uma música da Cat Power. No escuro do cinema, hoje à noite, meus pensamentos começaram a borbulhar. Temia que a vontade de escrever fosse mais forte, que as palavras quisessem nascer ali mesmo, no meio da sessão de "Longe" (poderia haver título mais sugestivo?).
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